O Museu Municipal de São José dos Campos apresenta, a partir de 7 de outubro de 2025
às 19h, a exposição (EX) CULTURA — Entre a Matéria e a Memória, dedicada ao artista
Egídio Rocci (1960–2015). Com curadoria de Renata de Freitas e Paulo H. Rosa e
produção da Galeria Poente, a mostra reúne esculturas, livros de artista, desenhos,
fotografias e ilustrações, lançando luz sobre um dos nomes mais singulares das artes
visuais do Vale do Paraíba.
O título da exposição — (EX) CULTURA — contém em si as palavras cultura e escultura,
apontando para a essência da poética de Egídio Rocci. Sua obra nasce do gesto de
recolher móveis de determinadas épocas e contextos culturais, deslocando seus
significados originais por meio de recortes, encaixes e justaposições com outros
materiais. Assim, aquilo que pertencia a uma cultura específica deixa de ser uma coisa
para tornar-se outra: uma ex-cultura em transformação.
Esse processo é o núcleo da pesquisa de Rocci. Ao reunir, cortar e recompor estruturas
frágeis ou objetos descartados, o artista cria esculturas que preservam e evidenciam as
marcas do tempo — ferrugens, trincas, desgastes — convertendo-as em linguagem. Nas
obras, o que poderia ser visto como falha torna-se gesto construtivo, revelando
contrastes fundamentais: cheio e vazio, velho e novo, opaco e brilhante.
A exposição apresenta esse território de tensões e ressignificações, em que a memória
cultural se reinventa em novas formas, convidando o público a refletir sobre os modos
como a matéria guarda e repropõe histórias.
O público poderá apreciar a série Livros, criada nos últimos anos de sua trajetória. Feitos
em madeira de demolição, com dobradiças e encaixes simples, esses volumes se abrem
para abrigar relicários insólitos: fósforos, trenas, lápis e pregos que, ao invés de contar
histórias lineares, sugerem fragmentos de narrativas possíveis. São livros abertos à
imaginação do público, hoje também guardiões da memória de seu autor.
Criando esculturas no formato de aviões, Egídio Rocci retoma o universo lúdico para
propor objetos que, apesar da forma, não podem voar. Ao construir aviões em madeira,
o artista retira sua função original e acentua o contraste entre desejo e limite, leveza e
peso.
Essa escolha material, ao mesmo tempo poética e paradoxal, revela um questionamento
filosófico profundo: o impulso humano de transpor barreiras e desafiar a gravidade,
mesmo quando confrontado pela impossibilidade. Em Rocci, o brinquedo improvisado
se torna metáfora da tensão entre sonho e matéria.
Outro destaque é a série fotográfica Do oitavo andar, exibida em videoloop. Realizada
a partir da janela de seu apartamento, registra cenas do cotidiano — pássaros, pipas,
roupas no varal, gatos sobre muros, pessoas em gestos triviais — que se transformam
em poesia visual ao serem filtradas pelo olhar sensível do artista.
A produção gráfica de Rocci também está presente. Durante as décadas de 1980 e 1990,
suas charges publicadas na Folha de São Paulo e no Valeparaibano marcaram uma fase em
que o traço crítico e irônico se consolidava como extensão de seu pensamento visual.
Esses desenhos, em diálogo constante com esculturas e livros, demonstram a fluidez
entre bidimensionalidade e tridimensionalidade em sua obra.
Como escreveu a crítica de arte Angélica de Moraes, a produção de Rocci lida com “o
duplo e o outro”, operando deslocamentos de função e identidade (MORAES, 2008).
Cada escultura, livro, desenho ou fotografia desdobra-se como uma narrativa silenciosa,
situada entre o que já foi e o que ainda pode vir a ser.
Entre a matéria e a memória, Egídio Rocci construiu uma obra que é também
testemunho cultural: peças que preservam o assombro diante do cotidiano, convidando
o público a decifrar ou simplesmente sentir.
Biografias
Egídio Rocci (1960–2015)
Artista visual nascido em São José dos Campos, atuou entre as décadas de 1980 e 2015,
quando faleceu. Sua trajetória foi marcada pela experimentação entre desenho,
escultura, instalação, livros de artista e fotografia. Publicou charges em jornais como
Folha de São Paulo e Valeparaibano, consolidando um traço crítico e irônico. A partir
dos anos 1990, dedicou-se à escultura com materiais de descarte, transformando restos
em poesia visual. Suas obras já integraram exposições em galerias e instituições do Vale
do Paraíba e de São Paulo.
Renata de Freitas
Artista, pesquisadora e curadora em artes visuais, atua em projetos que valorizam a
produção contemporânea, com foco especial nas práticas de mulheres artistas e nas
interseções entre arte, cultura e contemporaneidade. Doutora em Comunicação e
Semiótica pela PUC-SP, é autora do livro Design de Superfície (Ed. Blucher) e desenvolve
pesquisas dedicadas ao campo feminino nas artes visuais, propondo leituras críticas e
curatoriais que ampliam a visibilidade dessas produções. Como artista visual, participou
recentemente de exposições coletivas no MAM Bahia (2024), Galeria Samba RJ (2025) e
na Apexart, em Nova Iorque (2026), além de realizar mostra individual financiada pela
Fundação Cultural Cassiano Ricardo (2025).
Paulo H. Rosa
Produtor cultural e parecerista, é fundador da Galeria Poente (2019–2024), espaço
dedicado à arte contemporânea que realizou mais de 30 exposições em São José dos
Campos e região. Pós-graduado em Fotografia e Arte Terapia, atua em projetos de
circulação, manutenção de espaços culturais e formação artística. Foi contemplado com
o Prêmio Trajetórias – PNAB 2024 e integra bancas de avaliação em editais municipais e
estaduais.
Serviço
Exposição: (EX)CULTURA — Entre a Matéria e a Memória
Artista: Egídio Rocci (1960–2015)
Curadoria: Renata de Freitas e Paulo H. Rosa
Produção: Galeria Poente
Abertura: 7 de outubro de 2025, às 19h (vernissage)
Período de visitação: 8 de outubro a 7 de fevereiro 2026
Horário de visitação: Terça a Sexta das 9h às 18h, sábados das 9h às 13h
Local: Museu Municipal de São José dos Campos – Praça Afonso Pena, 29 – Centro
Entrada gratuita




