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Em colaboração ao site JLSocial, o fashion journalist Ivan Reis – colunista de moda masculina da JLS Magazine – que assina comentários, criticas e entrevistas nas L’Officiel Brasil, L’Officiel Hommes Brasil e revista Mensch assina, com exclusividade, a matéria RITA LEE NÃO VESTE PRADA sobre o figurino, identidade e estilo da rainha do rock marcando a data do seu falecimento, em 22 de maio – dia de Santa Rita – uma singela homenagem do jornalista que teve sua infância embalada pelos grandes sucessos da sempre Rita Lee!
Não que eu seja fissurado por música, camisetas de banda e saiba tudo sobre as últimas turnês do mundo, mas Rita Lee sempre me encantou. Eu me lembro bem dos programas de televisão e daquela aura de rockstar, do cabelo vermelho e dos óculos redondos e coloridos. A presença marcante no palco, a voz estranhamente deliciosa. No fim das contas, a dona da própria linguagem. Sempre uma entrada triunfal com direito a selinho. O mais intrigante? As roupas!
As peças que vestimos até podem ser o mais superficial que percebemos do outro ou de nós mesmos. Aquela olhadinha marota no espelho antes de sair traduz significados que vão bem além disso. Profundas ou não, são camadas de tecido e de sentido. Impossível não parar os olhos sem tentar decifrar as produções de Rita. As peças não diziam nada e tudo ao mesmo tempo. Não era luxo, nem lixo. Além de qualquer tendência, era estilo e passarela, ou melhor, um auê que não nos magoou nunca. Das camisetas folgadas ao body de estrelas reproduzido em carnavais Brasil afora, Rita sempre roubou a cena durante a carreira. Ela colocou seu closet pra jogo!
É bem óbvio dizer que a personalidade de Rita Lee não foi adepta a minimalismos, linhas de construção simples e muito menos cores sóbrias. Muito clichê para tanta criatividade! Rita sempre nos virou de ponta cabeça e nos fez de gato e sapato. Estampas maximalistas, vestidos de noiva inusitados, botas com plataformas altíssimas e o célebre chapéu do tempo dos Mutantes quando o trio do qual fez parte ainda se chamava Os bruxos. Os cílios de boneca craquelados no rosto da capa daquele disco que sempre olhou por nós desde a década de 1970.
Por mais despretensiosa que pareça, Rita sempre soube o que fez. Ela mesmo disse que nem toda feiticeira é corcunda. Não foi à toa que fez uma boa mistura de estampas, padronagens, e – mais que tudo – tirou os limites do lugar. A camiseta de banana é um exemplo de que o cotidiano pode ser estampado, inusitado, assim como o terno metalizado com cabelo vermelho. A formalidade envernizada de ousadia que só ela poderia usar. Em plena ditadura, Rita se vestiu de prisioneira para fazer seu primeiro show depois do episódio que a levou atrás das grades por uma acusação falsa em 1976. É pensando que se veste uma roupa!
E os acessórios? São conhecidos por trazerem personalidade para produções, e acho bem possível – e louvável! – que sejam potencializados. As estrelas no guarda-roupa de Rita brilharam em muitas versões para adornos de cabeça, além da tatuagem na mão direita. O brilho que carregou fez de Rita a luz para as próximas gerações.
Entre as etiquetas que usou, a única que permaneceu foi a sua personalidade nos palcos e na vida. E só! Na gramática do vestir, Rita criou seu vocabulário, (des)construiu discursos e abusou das figuras de linguagem ao revirar suas gavetas de estilo.
No encalço da memória de momentos, a personalidade de Rita Lee emerge da neblina de lembranças e irradia o brilho da voz por trás dos microfones, das caixas de som e dos olhos de tantos que foram – e são! – apaixonados por suas letras. “Faça hoje, amanhã pode ser ilegal” é o que fica da ousadia estratégica. Em meio a um styling difícil de entender na época em que viveu, Rita Lee ainda ecoa o seu estilo em nós. O que nos resta é admirá-la, escutar suas músicas e reviver sua memória. “Agora só falta você”, disse ela. Melodias que ficam no tempo, no espaço e, sobretudo, no coração de seus fãs.
Imagens de Bob Wolfenson, Paulo Vainer, Guilherme Samora, HQ Rock, Steal the Look, Seund Cloud e O Globo
Por Ivan Reis









