Quem visitar, até 27 de novembro próximo, a 59ª Bienal de Arte Contemporânea de Veneza – um dos mais importantes acontecimentos internacionais de arte – realizada de dois em dois anos, desde 1895, na Itália – terá a oportunidade de admirar as obras do artista plástico Marcelot. Na verdade duas obras, o busto de Napoleão e o Leão de São Marcos, ambos utilizando como matéria prima jornais amassados e lã. Um verdadeiro desafio, segundo o artista que, embora aparente ser europeu, tem a nacionalidade brasileira. Mais que isso – nasceu no Vale do Paraíba, mais precisamente na cidade de Potim, trazendo em seu RG o nome Marcelo Tomaz Galvão de Castro.
Residindo atualmente em Zurique, na Suíça, depois de viver nos mais diversos países – da Alemanha à China – Marcelot recorda seus tempos na região. “Nasci e me criei no Potim, e minha família é bem tradicional na região. Cursei o primário e ginásio em nossa cidade, o colegial em Aparecida e o superior, em Letras, no município de Lorena”. E completa: “Aos 19 anos iniciei um emprego como funcionário público no cartório eleitoral da 316° Vara no Fórum de Guaratinguetá. Eu não estava feliz com a vida que levava, pois não gostava do trabalho e estudava o que não queria. Dois anos depois houveram alguns acontecimentos que marcaram minha vida: meu pai faleceu repentinamente e eu sofri e sobrevivi a dois acidentes na Via Dutra”. Em “parafuso” psicológico, ele mudou tudo. Primeiro trocou a faculdade de Letras em Lorena pela de Educação Artística em Pindamonhangaba; matéria que passou a lecionar em escolas da cidade.
Seu primeiro contato com a arte, aqui mesmo no Vale, foi um show que assistiu com artistas profissionais italianos. Daí veio a vontade de ir para a Europa. A convite de uma amiga, mudou-se para Munique, Alemanha, em 1990. Uma vez lá, para sua surpresa, ele descobriu que as irmãs religiosas de Pinda haviam registrado seu curso naquele país, e que o curso era reconhecido como “Abitur/ College”. Ele passou a ter não só a possibilidade, mas também o direito a estudar lá. Fez a prova de talento e foi admitido na Academia de Belas Artes de Munique. “Os seis anos seguintes foram em estado de transe: toda manhã estudando alemão; à tarde arte na academia, e à noite trabalhando para sobreviver”, comenta Marcelot.
Fazendo Arte
Sua primeira exposição em Munique rendeu-lhe vários outros convites para expor. Com o sucesso repentino veio a pressão e o isolamento. Embora recebesse vários convites para expor, sempre recusava – “no meu canto, tive mais medo do sucesso que do fracasso”. Terminado o curso de Artes, concluiu ainda uma pós-graduação em Arte Terapia na mesma instituição. Convidado para trabalhar como “arte terapeuta” numa clínica psiquiátrica na Suíça, ele mudou-se para o novo país. Ao todo foram três faculdades de artes (arte pedagogia, arte terapia e belas-artes) e um curso de analise de grupos em Zurique. Em 2012 diversos motivos o levaram a deixar e clínica. Falando seis idiomas, ele arrumou emprego num escritório e passou a trabalhar, desde então, no seu comeback como artista plástico. Em 2018, veio a oportunidade de voltar temporariamente ao Brasil onde, por três meses, fez sua 1ª residência artística na FAAP, São Paulo. Sua 2ª residência artística aconteceu em Shanghai, na China, a convite da Swatch em 2020, onde vivenciou, um mês depois de sua chegada, o início do Lockdown por conta do Covid-19. Em 2021, em plena pandemia, fez sua terceira residência, agora em Berlin, na Alemanha.
Alguns países da Europa davam seus sinais de abrandamento nos protocolos da pandemia quando a Swatch, principal patrocinadora da Bienal de Veneza, convidou-o para expor em 2022. “Na bienal estou expondo somente dois trabalhos: o busto do Napoleão e o leão de São Marcos, que eu fiz especialmente pra esse projeto. O leão, símbolo da cidade, é mostrado em confronto ao busto do imperador francês, quem pôs fim à Republica Veneza”.
Antes da Bienal de Veneza fechar suas portas, no final de novembro próximo, Marcelot ainda vai expor dois projetos que acaba de desenvolver: “Corpo Gráfico” sobre a questão indígena e meio-ambiente (junho 2022) e “Capela”, um espaço místico num saguão industrial (setembro 2022), ambas em Zurique. Além disso, trabalha já há algum tempo no seu projeto “Antiguidade de Hoje”, concebido para um museu de arte greco-romana (ainda sem local definido pra expor). Mas sobre isso vamos escrever numa outra oportunidade.
Saiba mais no http://www.marcelogalvao.eu/
e no Instagram @marcelotartist

